Nestas eleições estará em debate o tamanho do Estado. Discussão ideológica. Os neoliberais afinados com Serra querem diminui-lo. Acreditam que o Estado não precisa ser dono de empresas e que o desenvolvimento advirá dos investimentos da iniciativa privada. Ao Estado a Educação, a saúde, a previdência e a segurança com os seus ônus. E só, é como pregam os partidos da vertente neoliberal. Do outro lado estarão os aliados da Dilma que entendem que o Estado precisa ser forte. Tanto que deve tomar a frente nos investimentos e regular o mercado. Um Estado suficiente, com o controle dos setores estratégicos. Que garanta equilíbrio entre ricos e pobres, freando a ganância dos mais fortes. No tabuleiro das eleições teremos o confronto dessas idéias. Nas mãos da direita ”A riqueza das Nações” de Adam Smith e nas mãos da esquerda a doutrina de Keynes, Marx e Engels. Tudo bem ajustado aos tempos, tese e antítese estarão no embate das eleições.
A experiência histórica desconstruiu o discurso radical do Estado mínimo e máximo. Mostrou que é possível um Estado síntese dos dois. Uma simbiose das correntes, com uma agenda comum que tem liberdade e livre iniciativa como pressupostos. Contudo, estamos longe do encontro das idéias. A diferença está na visão social que é a dose dos ingredientes. Liberdade sem limites e sem freios é visão kropotquiniana e anárquica que exclui o Estado e não coexiste com uma sociedade justa. Isso a direita ainda não apreendeu.
A propósito, recebi um livro especial. No sul, diriam especial de primeira. Foi presente do meu amigo Ivan Frey, médico de grande nome e que cuidou dos meus filhos. O título calha com o que discutimos acima. “Tempos de Ditadura” foi escrito por Edie José Frey, pai do Ivan. O autor é professor, advogado, músico e político em Catanduva, onde nasceu e vive. Um crítico da ditadura militar que o prendeu por três vezes. Imagino a felicidade do filho em apresentar uma obra tão rica do pai. E um filho que lhe seguiu os passos e honra a política em Umuarama. Do Ivan inda tenho “O Processo” de Franz Kafka que li, reli e tenho que ler de novo. “Tempos de Ditadura” me fez voltar à Universidade. Foi nesse tempo que aprendi a enfrentar o arbítrio, embora na árdua experiência da tortura.
A ditadura militar foi igual em toda parte. Sua inspiração veio da doutrina da segurança nacional que veio do norte da América e produziu ditaduras aqui no sul. Havia um tal “DOPS”(Departamento de Ordem Política e Social) que monitorava os cidadãos. Eram alcagoetas provavelmente pagos que delatavam quem não concordasse com os milicos. Inspirados em Robespière, Danton e Marat, espalhavam medo e terror. Essa gente fez o nosso setembro, imitando os massacres e chacinas da Revolução francesa. Só que desconheciam a lei behaviorista de que toda agressão provoca reação. Quanto mais perseguiam, mais os estudantes, operários, artistas, intelectuais. Igrejas e sociedade resistiam.
Foi nesse tempo que cheguei ao Diretório Acadêmico da Faculdade de Filosofia de Santo Ângelo. Mergulhamos em passeatas, comícios-relâmpagos, feiras de livros, debates e o escambal. Escrevemos “abaixo a ditadura” por todo lado. Denunciamos a submissão do país ao imperialismo norte-americano e questionamos o acordo MEC-USAID. Desse caldo patriótico surgiram muitos líderes, inclusive os atuais pré-candidatos Dilma e Serra.
Foi um tempo bom. Escolas e ruas brigavam por liberdade e oportunidades iguais a todos. Estado fraco e Estado forte, qual deles pode garantir isso? Eis o debate das eleições.
(Eliseu Auth é Promotor de Justiça inativo, atualmente Advogado militante).