segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Um jogo pelo poder

Como se fosse vestal de alma pura e sem jaça, a oposição no Senado foi ao Supremo Tribunal Federal, pedindo a reabertura dos processos de cassação do Sarney. A Justiça não acatou. Não conheço o teor da decisão, mas imagino que a maior Corte do país entendeu ser questão “interna corporis” do Senado. Questão de exclusiva deliberação interna da casa legislativa. A oposição sabia disso, mas jogou para a platéia.
Fiquei olhando essa pantomima do Sarney e de outros senadores. Vi, e sei que a sensação do ilustrado leitor do Umuarama Ilustrado é a mesma. Vi e ninguém me tira da cabeça que, atrás da rotunda desse teatro, está a próxima eleição presidencial.
Às vezes, o óbvio é o óbvio mesmo. Outras vezes não é. Então é preciso buscar as razões submersas no emaranhado das aparências. Dentro do ser humano está ele e estão as suas convicções, tendências e pretensões. As ações que pratica são finalistas e projetam o conteúdo da alma. Se razoáveis, coerentes ou não, isso é outra questão. E o que é que chega até nós, feitos choldra de uma mídia que também tem suas tendências e pretensões? Para favorecer um projeto néo-liberal, ela sugere que a oposição é o grupo do bem no senado. Esconde que foi essa direita que deu causa à balbúrdia. E aposta que o povo tenha memória curta, do mesmo jeito que a turba que gritou pela liberdade de um certo Barrabás.
Sarney está errado. E está do mesmo jeito que outros que administraram o Senado. Certamente os maus costumes provêm de longe. Demoramos para enxergar práticas obscuras, desvios de verbas indenizatórias e outras coisas mais. Não é só para o Senado que deveríamos olhar...Que tal Assembléias, câmaras municipais, quartéis, etc... Antes de Lula, nem polícia federal funcionava. Saibam, qualquer indecência pode e deve ir ao Ministério Público que só não vai agir se não quiser. Mal pergunte, quem pôs o Sarney na presidência? O PT não foi. Então, quem foi? Não diga que foram os mesmos que agora o deblateram...
Entendam bem. Nesse jogo, todos lêem Maquiavel. Cartas na mesa, com Sarney fora da presidência, o sucessor será da oposição. O busilis está nisso. Senado sob controle, sobrarão dificuldades para o resto do governo Lula... Sabem que a única forma de terem chances na retomada do poder, é torpedear um governo que vai muito bem, obrigado.
Alargo o raciocínio. O PMDB é aliado do Governo e ocupa importantes Ministérios. Se não é perfeito, tem quadros de excelente qualidade. Sua capilaridade é sem igual, sabemos todos. Dividir para reinar, eis o desiderato de intrigar o PMDB com Governo do país, atraindo-o para as hostes de uma oposição sem discurso nem proposta.
Pode que não seja, mas será que algo assim já não foi visto? O Supremo Tribunal Federal acaba de rejeitar uma denúncia contra Antônio Palocci, no caso do motorista Francenildo, que lhe fez acusações na CPI dos bingos, ao tempo em que era Ministro da Economia. Não se pode abrir processo sem provas, julgou a maioria dos Ministros. Sabe-se que uma quebra ilegal do sigilo bancário mostrou depósitos na conta do tal motorista. Seriam quarenta mil reais depositados pelo pai. O motorista ganhava em torno de quatrocentos reais/mês. Disse que o dinheiro era do pai, mas sem pré julgar, seria muito bom confirmar que foi mera coincidência o tempo dos depósitos e o tempo do depoimento que fez à CPI. Seja como for, ninguém amacia quando se trata de um jogo pelo poder.
(Eliseu Auth é Promotor de Justiça inativo, atualmente Advogado militante)

Um comentário:

  1. Prezado Dr., congratulações pela pena enxuta e de expressão cristalina!

    Nossa gente tem amadurecido, ainda que a passo de cágado, e penso que o nosso papel é manter foco no ideal de um ambiente político mais isento, menos comprometido, e na contrapartida de nossa sociedade EM CONFERIR O QUE ACONTECE, e a exigir o melhor para todos, ao invés da mesmice daqueles feudos que ainda nos têm mantido - como nação - nos grilhões da política coronelista e corrompida que herdamos de priscas eras.

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