quarta-feira, 17 de setembro de 2003

PELO SIM E PELO NÃO

Para conhecer o mundo da política e dos políticos, nada como vivê-lo. Não falo da política ideal. Digo da que se pratica por aí afora. E refiro-me à prática existente na classe política de nosso tempo. Não sei se um dia foi diferente. Já está passado da hora... Mas do jeito que está, tá brabo de agüentar!Também não adianta torcer o nariz. Todos nós precisamos da política e de (bons) políticos. Política como arte de governar... Alguém deve dirigir a nação, os Estados e os municípios... Se virar as costas resolvesse o problema, então poderíamos fazer a campanha do “fasto já!”. Os políticos lacaios, os vendilhões e os corruptos, torcem para que a sociedade dos homens de bem não veja com bons olhos a atividade política. Assim fica mais fácil para se manterem no poder... Exatamente eles, os mesmos que causaram toda essa repulsa...Estou no assunto por duas razões. A primeira, porque ele é importante. A segunda razão é a questão das urnas eletrônicas. No Congresso Nacional, está em votação a obrigação do registro escrito dos votos dessas urnas eletrônicas. Uma velha luta dos que querem transparência...Fraudes eleitorais sempre existiram. Quem não ouviu falar delas? Como Promotor eleitoral, fiz verdadeiras peregrinações pelas comarcas por onde passei, contra essas práticas viciadas. O sistema tem de ser justo e igualitário, sem privilégios para este ou para aquele. O contrário será hipocrisia e canalhice!As coisas não andam boas porque não há bons exemplos. Nem de cima. Nossa justiça eleitoral é omissa e confusa. Nunca ninguém sabe bem o que pode e o que não pode fazer. Nesse clima de “samba do crioulo doido”, sem regra nem disciplina, quem leva vantagem é o abusado em todos os sentidos. O que compra o voto, o que escreve em placas públicas, o que adota o processo da malandragem para chegar ao poder. E, do jeito que se elege, vai exercer o poder. Seguramente! Afinal, nada vai acontecer com ele mesmo! Diga se vai... Vivemos um verdadeiro “faz de conta”...Isso tem que acabar!Divaguei, mas volto à urna eletrônica. E pergunto: “Por que há gente que é contra o voto eletrônico impresso?” Dá para atinar? Dizem que tem “gente grande” que é contra. Pois é, se a impressão do voto eletrônico é garantia de lisura do pleito, ser contra por quê? Olha, uma sociedade livre só se constrói com salvaguardas. Todos os poderes devem ser bem fiscalizados. Inclusive o judiciário! É preciso cercar o sistema, com garantias de retidão. Só um retardado ou um mal intencionado não vai entender. Alguém argumentou que o sistema das urnas eletrônicas não comporta fraude. É? Farroupilha! Com tantos interesses em jogo, grande parte deles escusos? De que jeito nos garantirão que o implantador do sistema (do “soft”) não está acertado? Sabemos de sobra que a máquina só faz o que alguém manda fazer... E se a ordem for favorecer determinado partido ou candidato? Pelo sim, pelo não, que venha o voto eletrônico impresso. Anotem bem: Pelo sim e pelo não!
(Eliseu Auth é Promotor de Justiça inativo e Advogado)